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Prioridade na vacinação negligencia a geografia da Covid-19 em São Paulo

Tuesday September 14th, 2021

Aluízio Marino, Gisele Brito, Pedro Mendonça, Raquel Rolnik

 

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Desde os primeiros meses da pandemia, diversas leituras produzidas inclusive pelo governo, imprensa e organizações da sociedade civil apontaram para a desigualdade na distribuição de hospitalizações e óbitos por Covid-19, com uma maior concentração de casos em bairros periféricos, apontando inclusive a precariedade da moradia. – especialmente favelas e cortiços – com o potencial de contágio. Esta leitura foi amplamente reproduzida por técnicos de vários níveis de governo, por gestores, consultores e empresários. O ex-ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta, declarou durante seu depoimento na CPI da Covid que a ideia de que “as pessoas vão contrair isso [a doença] porque moram em favelas, porque estão aglomeradas, porque não têm esgoto”, sustentou as teorias de imunidade de rebanho que orientou a ação do governo federal. Em maio de 2020, o presidente da XP declarou que a pandemia já havia passado nas classes altas, mas o problema era que o Brasil contava com muitas favelas. O ex-prefeito de São Paulo, Bruno Covas, declarou no mesmo período que as comunidades eram as mais afetadas, e as que mais precisavam de apoio da prefeitura. Mapas oficiais do município ajudavam a construir essa narrativa, como analisamos anteriormente. Trata-se de uma leitura que reconhece a desigualdade, embora de forma estigmatizante e simplista.

Apesar de demonstrarem uma preocupação com a saúde da população de bairros mais vulneráveis, essas narrativas não repercutiram em uma estratégia territorializada para conter a disseminação da doença. Mapeando o status da campanha de vacinação no município de São Paulo a partir de dados do Ministério da Saúde, os resultados mostram mais uma vez um desalinhamento entre o diagnóstico e a estratégia adotada.